A falta de leis é desculpa para não trabalhar trânsito na escola?

Recentemente criaram-se leis municipais que determinam a obrigatoriedade das escolas incluírem trânsito como tema transversal. Excelente! Se não fosse chover no molhado, pois se os temas transversais são a expressão de conceitos e valores básicos à democracia e à cidadania abordados por meio de questões importantes e urgentes para a sociedade contemporânea, incluindo o trânsito, não temos nenhuma novidade.
É fato que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) compreendem apenas seis temas transversais (Ética, Orientação Sexual, Meio Ambiente, Saúde, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo), mas os conteúdos de educação para o trânsito entram em, pelo menos, cinco deles. O que estamos esperando para começar?
Não são poucos os professores e equipes gestoras nas escolas que já trabalham com metodologia de projetos há muito tempo colocando a educação para o trânsito como eixo norteador de suas ações. Macroprojetos que desdobram em microprojetos com repercussão na comunidade e trabalho direto e parceiro com os pais, voltados para valores de convivência e aprendizagens de comportamentos seguros e defensivos no trânsito.
O que quero dizer com isso é que precisamos sair do discurso e irmos logo para a prática, para a ação, sem ter que esperar que leis sejam feitas para começarmos a incluir trânsito na escola. E isso é bem diferente de não concordar com mudanças necessárias na LDB.
Afinal, não é isso que todo mundo quer: que as escolas passem a trabalhar educação para o trânsito com os alunos desde cedo? Não temos os temas transversais como possibilidade? O que está “pegando” então?
Uma coisa é lamentar que ainda não tenhamos disciplinas de trânsito no currículo porque o CTB entrou em vigor depois da LDB e esta prevê um ensino globalizante, com trânsito somente como tema transversal.
Mas, isso não impede que professores cheios de boa vontade e iniciativa se mobilizem para que a equipe gestora da escola inclua Educação Para o Trânsito no Planejamento Político Pedagógico (PPP), que passe a dar suporte e oferecer formação específica enquanto a obrigatoriedade não sai. Isso não tolhe a iniciativa e a criatividade dos professores e da escola.
Uma coisa é ainda não termos trânsito no currículo, outra é usarmos isso como desculpa para não fazermos o que podemos fazer seja por falta de iniciativa, de apoio da gestão da escola, por falta de condições, materiais e recursos.
Então, tá: e se fosse aprovado hoje trânsito como disciplina na escola, como iria ser? Seria dada a partida?
 O problema é que no Brasil dependemos de leis para tudo, até para fazermos o básico, o que está ao nosso alcance. Lembrando que vivemos num estado democrático de direito em que tudo que a lei não proíbe é permitido.
Muitos professores aguardam uma lei específica que os autorizem (ou obriguem) a começar a trabalhar trânsito com as crianças, mas ignoram que os alunos estão no trânsito o tempo todo e também são suas vítimas. Ignoram a realidade à sua volta que precisa ser trazida urgentemente para a sala de aula.
É fato que faltam recursos, apoio, que no interior da escola existem resistências, forças opostas e jogos de poder, mas ainda assim se conseguiu tocar esse barco em frente sem deixá-lo afundar de vez.
É certo que faltam formadores em Educação Para o Trânsito para esses professores, mas não falta informação, não faltam educadores de trânsito, gente disposta a ajudar e exemplos de outros trabalhos que servem de modelo e inspiração para quem está disposto a começar de verdade.
Existem muitos sites e blogs na internet com fundamentações teóricas, ideias de jogos, brinquedos, atividades, gincanas e outras sugestões para se trabalhar trânsito com os alunos. Existem fóruns onde os profissionais trocam ideias e executam a formação na prática, que também é uma das possibilidades de formação. A CET/SP oferece cursos de capacitação online gratuitos e com acompanhamento para professores desde a Educação Infantil, Ensino Fundamental e até para Ensino de Jovens e Adultos.
Havendo interesse, as próprias secretarias municipais e estaduais de educação podem providenciar esses formadores, apoiar os projetos existentes, estimular novos projetos e iniciativas e para isso não precisamos de leis específicas, mas de boa vontade!
Sendo o trânsito um tema vital, fundamental para se trabalhar na escola e a educação para o trânsito uma necessidade tão urgente, porquê não começar com o que temos?
Alguém já viu algum professor justificar que ainda não começou a trabalhar educação para o trânsito na escola por falta de lei? Talvez, por falta de iniciativa, de recursos, de apoio, de motivação. Mas, que temos como fazê-lo temos.
Inclusive os pais, os melhores parceiros da escola, que criticam a falta de leis específicas que tornem trânsito como disciplina obrigatória são aqueles que não fazem a sua parte e não educam os filhos de berço. São os que abusam dos maus exemplos de falta de educação e cidadania quando estão com os filhos ao volante. Começando por estacionar em fila dupla na porta da escola. E olha que existe lei proibindo este tipo de abuso!
Estão esperando o quê? Uma lei que torne obrigatória começar a ensinar respeito, ética, cidadania, tolerância, paciência, regras de convivência e autocuidados no trânsito aos filhos em casa?
Será que é mesmo a falta de leis que nos impede de fazermos o que tem de ser feito?
Fonte: Blog do trânsito 11/02

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