O trânsito e os agentes de um salário mínimo

Quando se fala em cidade sustentável, logo surge o tema mobilidade urbana. Daí abre-se um leque de informações, dados, estatísticas, formas de ir e vir. Neste desafio, que é garantir fluxo e respeito entre motoristas, motociclistas, ciclistas, esqueitistas, cadeirantes e pedestres, há uma figura, nem sempre lembrada e valorizada.

Em Trindade, cidade que caminha a passos largos para se tornar um centro nacional, quiçá mundial, de turismo religioso, algumas questões têm passado longe dos holofotes do poder público. O trânsito é uma delas. E a discussão não trata de uma pintura de faixa aqui ou uma placa nova ali. Vai além dos semáforos programados.
Os agentes da Superintendência Municipal de Trânsito (SMT), responsáveis por garantir o sucesso das ações pensadas pela pasta, estão dando aula de insatisfação, e como seres humanos que são, repletos de sonhos e expectativas, se veem a cada dia menos motivados a desempenhar a função pública confiada a eles. Para os mais precipitados, seria momento de dizer: “Se estão insatisfeitos, que procurem outra atividade”. Mas não é assim que as coisas funcionam quando se procuram soluções e não, mais problemas.

O caso é que a SMT caminha para uma década na cidade e, desde sua instalação, a pasta vem sofrendo perdas. Dos 30 agentes devidamente aprovados em concurso público, menos da metade continua na superintendência. São 14 agentes para cumprir turnos de segunda a segunda, 24 horas por dia. É fato que com este contingente é impossível atender a demanda local. E o “local” passa longe da Região Leste de Trindade, que raras vezes se deparou com agentes da SMT.

Com remunerações defasadas – hoje um agente em Trindade recebe pouco mais de um salário mínimo – e com a autoridade como agentes públicos no chão, os homens e mulheres da farda amarela vivem a agonia de não saber a quem recorrer. Do Legislativo municipal ouviu um “tamo junto” anoréxico e do Executivo, um “estamos analisando”, a la Call Center, e a negativa de reajuste, até que as finanças da Casa entrem no eixo.
Contando com apenas duas “viaturas” – motos que pedem aposentadoria – os agentes tentam, como podem, por ordem no trânsito, mas, como relatam, “há muito cacique para pouco índio”. “Na Festa de Trindade, por exemplo, desenvolvemos todos os anos um plano para garantir melhor fluxo de veículos, mas sempre tem uma ‘autoridade’ para forçar um ônibus onde é proibida a passagem e a liberação de carros onde bloqueamos, com ok apenas para pedestres”, conta um agente.

O município, sem uma Superintendência de Trânsito organizada e com agentes motivados, é um poço sem fundo de problemas. O curioso é que a SMT tem, legalmente, um papel que a garante autonomia financeira e divisas para a cidade. Quando devidamente estruturado, o órgão pode proporcionar um trânsito perto do ideal, inclusive autuando motoristas infratores. A aplicação de multas, vista muitas vezes por gestores como desgaste para o governo, é uma ferramenta eficaz no cumprimento das leis de trânsito.


Trindade caminha para se tornar uma cidade moderna, desenvolvida, com mais igualdade entre seus moradores, o que a obriga a se colocar em posição proativa dia após dia. Com a vocação turística que tem, leva para o Brasil e para o mundo diariamente impressões de visitantes, positivas ou não. O bom acolhimento está sim na simpatia dos moradores, mas também na infraestrutura de qualidade e nos serviços públicos a contento. Fonte: http://cidadeagorago.com.br 22/05

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